terça-feira, 27 de abril de 2010

No caminho...

Aos novos visitantes, sejam bem vindos...
Vamos trilhar o caminho da Luz!!!

domingo, 18 de abril de 2010

Um Novo Lugar, Relato de um desdobramento.

Marcamos para hoje, domingo 18/04/2010 as22h, um encontro para nos concentrarmos e tentar um desdobramento, foi muito interessante, sensações e experiências fantásticas.
Me preparei colocando uma música pra relaxamento, incenso, na verdade preparei o ambiente para uma viagem psiquica.
No inicio, quando estava entrando no estágio de concentração, senti por alguns instantes, que haviam alguns vultos e que estavam me energizando num circulo de energia pura em minha volta.
Pareciam com vultos de pessoas, mas não consegui ve-los claramente.
Senti um facho de luz me envolvendo com muita energia e que me guiava ao encontro das outras pessoas que estavam me aguardando para o encontro.
Senti meu corpo arrepiado como geralmente acontece quando mexemos com energia estática, os pelos se arrepiam e se levantam, dando a impressão que tomamos um choque.
Olhei para baixo, como se estivesse de olhos abertos e vi que ainda estava deitado em minha cama, que frio na espinha, percebi que estava em desdobramento.
Olhei para o lado e vi uma das pessoas que iria me encontrar, olhei para o outro e lá estava a outra pessoa, também em estado de concentração.
Chegamos a uma sala  que parecia ter janelas e com piso como  pedra ônix.
Por alguns instantes senti que não conseguia mexer meus braços nem minhas pernas, pareciam que estavsam com 500kgs cada um, tudo estava muito pesado.
Senti que estavamos todos indo para um local que não era a Terra, um lugar que era muito diferente daqui, era um lugar lindo que tinha milhares ou talves, milhões de flores e plantas, um lugar muito bonito, como o Eden mencionado na Biblia.
Tive a sensação de segurança e conforto nesse lugar, estavamos formando um circulo de três pessoas de mãos dadas e que estavamos abençoando esse lugar para quem viria depois.
Alguns minutos depois, estavamos nos desligando e voltando da viagem.
Vi que estava me aproximando do meu corpo que estava paralizado lá embaixo deitado na minha cama.
voltei trinta minutos depois, me sentindo muito bem.
Senti sua presença mestra.

domingo, 21 de março de 2010

Encontrei JJ Benites!!!

Como estava a procura de material sobre o assunto, em todo lugar que passava, eu dava uma olhada nas sessões de livros e tal, era muito louco, que fissura.
Num belo domingo de compras no mercado próximo de casa, achei alguns livros que falavam justamente sobre ufologia e religião.
Era JJ Benites, esse era o cara, ele pesquisou e foi em vários locais atras de ovnis e tudo que eu podia querer que acontecesse, aconteceu.
Fiquei realmente animado, porque, tudo que eu pensava, estava ali, ele pensava da mesma forma que eu, foi demais.
Comprei o que eu pude e comecei a ler, nossa!, cada livro que lia ficava mais impressionando com o que eu encontrava e o paralelo que o autor fazia entre os dois, era fantástico.
Tenho certeza que encontrei meu caminho.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"O Grande Plano", minha vida, minha visão e minha missão.

Muitas vezes me vem na cabeça, lembranças de um lugar muito estranho, uma sala meio escura, com uma iluminação diferente como nunca havia visto antes.
Essas lembranças vem como em fleches e não consigo reconhecer o lugar e nem me lembrar de mais coisas, mas tenho a nítida certeza que realmente aconteceram e que estive lá.
Voltando no tempo, quando era criança, morava com meus pais na pompeia, zona oeste em São Paulo, lembro-me de dormir na sala e tinha muito medo de coisas que estava vendo e de sensações que tinha, como se estivesse sendo observado e acompanhado por alguém ou alguma coisa estranha e diferente.
Sempre que ia dormir, parecia que meu corpo flutuava e emitia uma pulsação, muito forte, sempre achava que era meu coração batendo, mas não era nem de longe, era muito difícil de sentir aquilo, mas parecia meu cérebro pulsando.
Muitas vezes via círculos luminosos dentro do meu quarto, ficava muito assustado e quando contava para minha mãe, ela não acreditava e não dava muita atenção para o que eu sentia, achava que era pesadelo ou alguma coisa parecida.
Eu era muito diferente das crianças que conhecia, parece que alguém ou alguma coisa me avisava do que ia acontecer e estava sempre ao meu lado como que cuidando de mim.
Sempre fui muito eletrico, agitado, minha mãe achava que eu tinha uma energia acima do normal, mas acredito que era normal para uma criança de seus 5 ou 6 anos de idade, mas para ela havia alguma coisa diferente, tanto que numa dessas fases, me levou numa psicóloga, que não constatou nada de anormal, mas mesmo assim eu sentia as mesmas coisas de antes.
O tempo foi passando, meus pais se separaram eu fui morar com meu pai, na casa dos meus avós no Brooklin zona sul, num casarão que se eu não me engano, era um dos mais antigos da região.
Passei a conviver mais com os meus tios, foi nessa fase que comecei a conviver com situações muito bizarras e incomuns, cara , eu não fazia idéia do que vinha pela frente.
Meus tios, minha avó, faziam coisas que nem de longe poderia imaginar, coisas muito loucas e que eu não entendia e que me deixava apavorado, quase não conseguia dormir a noite, era uma loucura, vivia cuidando e tentando ver coisas.
Percebi naquele momento que minha vida, que já era diferente, por ver e sentir coisas que eu não conhecia e não sabia a origem, passaria a ser muito mais diferente e maluca.
Certo dia logo depois que voltei da escola, estava sentado no chão do quarto de costura da minha tia, brincando com alguns cones de linha, super distraído com eles, quando olhei para os pés da cadeira dela, tomei um susto daqueles, fiquei meio que paralisado, sem entender o que estava acontecendo e o que aquilo significava.
Olhei outra vez e vi, que a cadeira dela, não estava no chão, olhei para os pés da minha tia e eles também não estavam.
Fiquei estarrecido e paralisado, ela estava flutuando, mais ou menos a um palmo de altura do chão, percebi que a máquina de costura fazia um barulho diferente, como se estivesse a mil por hora, quando olhei para cima, vi minha tinha envolta numa luz branca meio azulada, parecia uma luz fluorescente, como os meus círculos companheiros, que vez em quando apareciam no meu quarto, ela costurava numa velocidade espantosa e de olhos fechados, fiquei realmente apavorado.
Passei vários dias chocado e apavorado, com medo de falar com ela, pois tinha medo de que ela tivesse com alguma coisa.
Pra piorar meu desespero, isso logo nos primeiros dias que cheguei naquela casa, passei por outro momento assustador. Eu estava na cozinha, era por volta das 8h da noite, nos preparávamos para jantar, eu, minha tia, minha avó, meu pai e meu avô, ainda não tinham chegado do trabalho, quando do corredor que dava acesso a sala e o banheiro, ouvi um falatório, uma pessoa discutindo com alguém que não lhe respondia, muito diferente e que não parecia de ninguém da casa, pois, eu conhecia todo mundo que lá morava.
Quando olho para a porta do corredor que estava escuro, sai meu tio, com uma feição muito estranha, avermelhado e falando de um jeito que eu não entendia, travei na cadeira, parecia que tinham me colado no acento da cadeira, me enfiei de baixo da mesa, deixando só os olhos do lado de fora, pra saber se ele não vinha pra cima e mim, mas minha avó e minha tia deram conta de apazigua-lo.
Cara, nunca tinha visto nada como aquilo, nem em filmes de terror, que medo!!!
Com tudo que estava acontecendo, parecia que, o que acontecia comigo tinha dado um descanso, mas foi só um ligeiro tempo, pois, logo tudo voltou a acontecer comigo, na verdade eles estavam se ajustando a situação e me preparando para o que vinha.
Os dias foram se passando e eu estava me acostumando com as coisas malucas que aconteciam com minha família, até um dia que tivemos a visita de outras tias e primos que vieram pra passar o final de semana.
Tudo estava muito legal, conhecendo novos primos e primas, brincando no quintal, que era maravilhoso e se tornou meu território preferido para as mais loucas e inimagináveis viagens, até a segunda noite.
Era muito legal, as meninas dormiam num quarto e os meninos em outro, e era muito divertido pois, ficávamos conversando e rindo até tarde, quando algum adulto batia na porta mandando a gente dormir que estava tarde.
Bom, estava eu com a cabeça coberta com travesseiro, meus círculos me apavorando, quando um dos meus primos, começou a gritar desesperadamente, um grito de terror, apavorante, todo mundo pulou das camas e quase ficaram grudados no teto do quarto , todos apavorados, acendemos a luz e vimos que ele continuava dormindo profundamente, meus tios entraram quase que voando pela porta, assustadíssimos e ele lá, imóvel sem mexer um músculo.
Que coisa, como podia acontecer aquilo, o cara gritava como um louco, parecia que estavam matando o moleque e ele não esboçava nenhum movimento, fala sério...só tinha maluco naquela casa, incluindo eu mesmo.
O tempo foi passando e fui descobrindo que eu estava numa família muito especial e que cada membro dela tinha uma habilidade, todos eram muito espiritualizados.
Descobri que meus tios liam muito sobre espiritismo, Alan Kardec e muitos outros e que essas habilidades não aconteciam por um mero acaso e como eu era muito curioso, comecei a ler os livros que eles liam, cara, as coisas foram se encaixando, daí comecei a perceber o que acontecia com eles, mas ainda não havia descoberto nada sobre o que eu sentia, estava muito confuso.
Num daqueles dias em que você esta sem ter o que fazer, resolvi mexer nos livros, naqueles que não tinha mexido ainda, fiquei lá fuçando nas coisas, até que percebi meu tio olhando pra mim, só observando, ela sentou do meu lado e começou a fuçar também.
Do fundo da montanha de livros velhos, ele puxou um livro que eu nunca tinha visto antes, era um livro que mostrava umas figuras diferentes e uns discos de metal.
Achei aquilo muito estranho e ao mesmo tempo senti uma força me empurrando para pega-lo, comecei a folhea-lo de uma forma quase que devorando o que via, fiquei impressionado com aquilo tudo e meu tio disse pra eu ir devagar, pra eu não me assustar.
Pronto foi o começo da minha jornada, o livro era "Eram os Deuses Astronautas?", que loucura, tinha coisa que parece que faziam parte da minha vida já a muito tempo, comecei a entender algumas coisas, mas a maioria, ficavam cada vez mais complicadas.
Como eu estava na escola e estava perto da primeira comunhão, minha tia me colocou numa aula de catecismo, pronto, foi o começo do terror, pois, tudo ficava mais confuso ainda, a Bíblia mostra uma coisa e escondia outra, cara, não foi fácil mesmo, mais dúvidas na minha cabeça e os círculos lá, zunindo no meu ouvido, até um dia que encontrei na pilha de livros do meu tio, uma bíblia, ela era um pouco diferente da que eu usava nas aulas de catecismo e alguns outros diferentes que falavam de outras religiões.
Comecei a ler e notei algumas diferenças que eu não entendia o porque, mas com o tempo fui aprendendo a distinguir.
Livros de outras religiões mas que falavam das mesmas coisas, de maneiras diferentes. Muito interessante.
Um livro chamou muito minha atenção, foi um livro que falava da religião Indú e que fazia citações sobre naves espaciais e Deuses que vinham nessas naves cortando as nuvens no céu, fiquei estarrecido e muito mais curioso, quanto mais eu lia, mais doido eu ficava e mais queria saber, dá pra imaginar um moleque com seus 12 anos com um monte de informações que mau dava conta?.
Um belo dia saindo da aula de catecismo, que era numa escola chamada Meninópolis, na mesma rua de casa, passei pelo portão que dava de frente pro cinema, não podia imaginar a felicidade que teria vendo o filme que acabara de entrar em cartaz, e qual era?,"Eram os Deuses Astronautas?", caraca, fiquei perplexo, pulei de alegria e disse, vou assistir, já tinha lido o livro, maravilha!!!.
Foi fantástico, fiquei impressionado com o que vi no filme, só confirmou o que já pensava, mas ainda faltavam respostas.
Livros que falavam de astronomia, engenharia aeronáutica, propulsão, força gravitacional, etc...coisas que me interessavam muito e faziam muito sentido para mim.
A cada novo conhecimento, minha cabeça girava e girava, era cada viagem!, meus Deus!.
Mas para mim, tudo fazia sentido, eu ainda não entendia, não sabia explicar o porque, mas sabia que tinha algum objetivo, não era por acaso que eu estava nessa louca procura, que eu tinha que estar ali.
O tempo foi passando e percebi que podia controlar aquelas coisas que sentia , se não tivesse medo, assim, fui dominando e trabalhando aquilo, para que pudesse continuar minha busca.
Passei por algumas religiões e seitas, cada uma mais pirada que a outra, que realmente não supriram as minhas dúvidas, muito pelo contrario, foram aumentando cada vez mais minhas inquietações.
Sempre gostei muito de ficar até mais tarde acordado, observando as estrelas, a lua, nas noites de luar, sempre fui fascinado por astronomia.
Admirava a lua e seu encanto, tentava ver a imagem de São Jorge, ficava horas observando as estrelas. era muito legal.
Estava na adolescência, aquela fase onde a gente se distancia dos pais um pouco, na verdade, a gente prefere ficar mais com amigos, namoradas do que com eles, ficávamos até tarde na rua, brincando, conversando.
Num desses dias, já com meus 15 anos, voltando da casa de um amigo, a noite, por volta das 23h, vinha passeando pela calçada, quando percebi que havia um tipo de sombra no céu, meio circular, que estava muito baixo, pairando no ar, parecia me observar.
Senti uma coisa estranha, parecia que havia desmaiado sem cair no chão, literalmente paralisado.
Eu estava a umas quatro quadras de casa, quando me dei conta, já estava parado em pé em frente ao portão.
Muito estranho, pois, não fazia sentido, não me lembro de ter andado até lá.
Daí para frente, as coisas foram se acentuando, meus círculos luminosos, que ainda me acompanhavam, ficavam ainda mais próximos, me rodeando, me observando, passei a ter sonhos com uma sala escura, com piso escuro brilhante, circular com um monte de janelas, como se fossem escotilha, acordava com receio de ser os seres de outro mundo que apareciam nos filmes.
Com toda aquela informação com os livros que lia, não poderia deixar que aquilo afetasse minhas reações, meu discernimento, com muito esforço e ajuda dos meus tios, fui controlando minhas reações e meu medo, aprendendo a classificar o que sentia e via.
Algumas religiões e seitas, me deram conhecimentos além daquilo que acontecia como visões, comecei a conhecer o que minha mente poderia fazer e qual o poder que descobri em várias situações.
Uma delas foi o poder que minhas mãos possuíam para sentir coisas nas pessoas e como também para curar, através de uma iluminação esverdeada que minhas mãos produziam, quando fazia massagens.
E outras me fizeram ver, até que ponto o ser humano pode chegar, pela cobiça, ganância, ser enganado por esses falsos, profetas, bispos e sei lá mais o que.
Ficava muito revoltado com o que via de maldade nas pessoas e o quanto essas pessoas de boa índole, eram enganadas.
Nossa vida vai tomando direções que nos afastam da verdade, trabalho, dinheiro para sobrevivência, relacionamento com outras pessoas, trabalho, trabalho, na verdade, nossos interesses vão se alterando, minhas sensações foram amenisando, não tinha mais muito tempo pra me dedicar e estudar mais esses fenomenos que ocorriam.
Alguns anos mais tarde, casado e com filho, literalmente cuidando da parte material da vida, quase esquecendo desse meu lado sensitivo e espiritualizado, tive uma visão que pedia pra que eu voltasse, que me preparasse para o que estava por vir, para iniciar uma nova fase.
Percebi alguns sinais que me levavam a encontrar coisas ligadas a esse assunto.

domingo, 17 de janeiro de 2010

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

As semelhanças








Várias são as semelhanças entre as narrativas bíblicas e em outros documentos, escrituras antigas das mais variadas civilizações, onde religiões e seitas contam acontecimentos e passagens desses seres tão especiais e seus poderes entre elas.
Abaixo segue um bom documento para apreciação apresentado pelo Eric.
A INFLUÊNCIA DA EPOPÉIA DE GILGAMESH NA ESCRITA DO GÊNESIS
Eric Thomas FollmannNúcleo de Estudos Históricos e Arqueológicos UNIANDRADEehfollmann@hotmail.com



“O passado das civilizações nada mais é que a história dos empréstimos que elas fizeram umas às outras ao longo dos séculos ...”
FERNAND BRAUDEL



1. Da “corrida ao ouro bíblico” à nova historicidade das sagradas escrituras.
Em meados do século XIX, após a descoberta na antiga cidade de Nínive da biblioteca do imperador assírio Assurbanípal (668-627 a.C.), o mundo redescobriu as antigas grandes civilizações da Mesopotâmia em tábuas de argila contendo escritos em sinais mais tarde denominados cuneiformes. Civilizações estas de que até então, o pouco que se conhecia estava contido nos livros da Bíblia, em informações “escassas e pouco reveladoras, uma vez que estavam diretamente relacionadas com a história do povo hebreu”.(CORREA, 200-, p. 2).

Tais descobertas deram início a uma espécie de “corrida ao ouro bíblico” que propunha evidenciar arqueológicamente as sagradas escrituras. Outras ruínas então, como as de Uruk, Ur e Nipur, começaram ser escavadas e revelaram mais inscrições sobre o passado do Oriente Próximo.


O trabalho de decifração destas tábuas foi realizado por vários pesquisadores, mas coube ao arqueólogo britânico George Smith, a primeira tradução contendo um trecho da Epopéia de Gilgamesh: o relato do dilúvio. Em 1872, Smith anuncia sua descoberta1 em um encontro da Sociedade de Arqueologia Bíblica causando um “forte impacto na Europa (...) por apresentar um texto pagão aparentemente antecipando a Arca de Noé”.(CORREA, 200-, p. 2).

Estas descobertas abalaram toda a comunidade científica e religiosa do século XIX, laicizando muitos dos objetivos iniciais, modificando métodos dos pesquisadores, e abrindo precedentes para o questionamento da veracidade dos textos bíblicos.
Nas últimas quatro décadas, diferentes estudos estão sendo realizados sobre os temas levantados no século XIX, tanto pela comunidade científica como em grande parte pela comunidade religiosa, fazendo com que sejam discutidos os elementos mitológicos presentes na confecção dos livros que compõe o Pentateuco2, que vão desde a formação do mundo à existência histórica dos seus patriarcas.

Tábua IX da Epopéia do Dilúvio



Há uma tentativa, nos dias atuais, por parte de arqueólogos e historiadores de remontar a bíblia separando o que é história do que são mitos e lendas.
"Apesar das paixões suscitadas por este tema, nós acreditamos que uma reavaliação dos achados das escavações mais antigas e as contínuas descobertas feitas pelas novas escavações deixaram claro que os estudiosos devem agora abordar os problemas das origens bíblicas e da antiga sociedade israelita de uma nova perspectiva, completamente diferente da anterior. (…) A história do antigo Israel e o nascimento de suas escrituras sagradas a partir de uma nova perspectiva, uma perspectiva arqueológica.” (FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2001, pp. V-VI, p. 1).



2. Da teogonia à teofania.
Paralelamente às discussões bíblicas, as descobertas feitas pelas escavações remontam os três milênios que antecedem à Cristo, onde a região entre os rio Tigre e Eufrates viu a ascensão e queda de grandes civilizações como os sumérios, acádios, assírios e babilônicos.


Dos textos traduzidos, vários deles incompletos devido ao estado de conservação dos mesmos, pôde-se extrair muito da filosofia e da mitologia mesopotâmicas, onde podemos observar que “o Oriente antigo, antes da Bíblia, e mesmo abstraindo-se dela, não desconhecia a reflexão sobre o homem. (...) As questões fundamentais da existência, da felicidade e da infelicidade, da relação com as potências cósmicas e com o domínio misterioso dos deuses, do sentido da vida e das incertezas do destino, já tinham neles um lugar de grande importância”.(GRELOT, 1980, p. 13).

Neste universo de descobertas, os sumérios e os acadianos revelam-se fornecedores de costumes, rituais e modelos literários a todos os povos do Oriente Médio3. Suas lendas, se consideradas como o primeiro repositório das recordações históricas dos povos do oriente antigo, “se transformaram, se esquematizaram, se reagruparam, mudaram eventualmente de país, se ampliaram, às vezes, desmedidamente” (GRELOT, 1980, p. 13), onde cada cultura apropriou-se de um mito conforme a sua ótica4.

Não diferente desta regra, os israelitas inovaram ao excluir todo um panteão, centralizando sua fé num deus único, propondo uma desmitização do universo transformando as forças cósmicas ao que de fato são. A situação do homem diante de Deus modifica-se totalmente, “embora, na prática, a adaptação da mentalidade corrente dos israelitas a essa mudança radical se tenha processado lentamente e com dificuldade” (GRELOT, 1980, p. 15), mantendo grande parte do antigo modo de expressar religioso herdado dos sumérios e acádios.

Desta forma, Israel começa a escrever sua própria história, ora compilando fatos de seu próprio povo em grandiosas lendas, ora adaptando mitos antigos à sua realidade e aos seus propósitos. As histórias contidas na parte hebraica da bíblia, embora difíceis de serem datadas pelos anacronismos que ali apresentam5, foram compiladas e ordenadas “principalmente, no tempo do rei Josias (640-609 a.C.), para oferecer uma legitimação ideológica para ambições políticas e reformas religiosas específicas”.(FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2001, p. 14).
3. A Epopéia de Gilgamesh e sua influência sobre demais literaturas do mundo antigo.
Considerada a mais antiga obra literária da humanidade, a Epopéia de Gilgamesh na sua forma “tardia” (século VII a.C.) como é difundida no Ocidente (TIGAY6 citado por ZILBERMAN (1998, p. 58)), não foge à regra das obras de origens mesopotâmicas: um compilado de lendas e poemas, cuja origem e veracidade perdem-se na difusão oral, adaptação cultural e textos fragmentados.

As narrativas contidas na epopéia deviam ser muito populares em sua época, pois são encontradas em várias versões escritas por vários povos e línguas diferentes, sendo que as primeiras versões da mesma, datam do Período Babilônico Antigo (2000-1600 a.C.), podendo ter surgido muito antes7, pois o herói desta epopéia é o lendário rei sumério Gilgamesh, quinto rei da primeira dinastia pós-diluviana de Uruk, que teria vivido no período protodinástico II (2750-2600 a.C.)8.

Devido à sua antiguidade e originalidade, muito se especula sobre a influência desta sobre textos mais difundidos e conhecidos pela humanidade, como os poemas épicos gregos Ilíada e Odisséia de Homero, escritos entre VIII e VII a.C.. Mas a polêmica é maior quando se comparados às narrativas do Pentateuco, a parte mais antiga do Velho Testamento, datadas do Primeiro Milênio a.C.. No caso desta última, o que legitima-nos a observar as influências, além de semelhanças impressionantes, o próprio contexto histórico e geográfico. Contexto este em que a origem dos hebreus e das grandes civilizações semitas são mescladas com a própria história do povo sumério. Históricos períodos de cativeiro, onde a aculturação era, além de inevitável pelas circunstâncias de sobrevivência, uma forma de dominação ideológica:

Representação de Gilgamesh

“O povo dominado era absorvido pelos nativos ao serem levados, havia a destruição total da nacionalidade, do culto, das instituições, nada ficando que pudesse ser lembrado a fim de que jamais alguém se encorajasse a agir em favor de uma reconstrução. Todo o elemento que representasse qualquer valor moral ou intelectual era desterrado e em seu lugar era posto outro povo trazido de outras regiões.” (LOPES, 200-, p. 2).



4. A semelhança entre as narrações.
As semelhanças narrativas encontradas entre Epopéia de Gilgamesh e o Livro do Gênesis iniciam-se logo nos primeiros versículos da bíblia, ou seja, na criação do homem. O povo de Uruk, descontente com a arrogância e luxúria do rei Gilgamesh, exige dos seus deuses a criação de um homem que fosse o reflexo do rei, e tão poderoso quanto ele para que pudesse enfrentá-lo e redimi-lo. O deus Anu, ouvindo o lamento da população, ordenou a Aruru, deusa da criação, que fizesse Enkidu:
“A deusa então concebeu em sua mente uma imagem cuja essência era a mesma de Anu, o deus do firmamento. Ela mergulhou as mãos na água e tomou um pedaço de barro; ela o deixou cair na selva, e assim foi criado o nobre Enkidu”.(SANDARS, 1992, p. 94).
“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.(GENESIS, cap. 1, ver. 26).
“Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”.(GENESIS, cap. 2, ver. 7).



Enkidu foi criado inocente, longe da malícia da civilização, vivendo entre as criaturas selvagens e compartilhando a natureza com elas:



“Ele era inocente a respeito do homem e nada conhecia do cultivo da terra. Enkidu comia grama nas colinas junto com as gazelas e rondava os poços de água com os animais da floresta; junto com os rebanhos de animais de caça, ele se alegrava com a água”.(SANDARS, 1992, p. 94).
“Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento. E a todos os animais da terra e a todas as aves dos céus e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento”. (GENESIS, cap. 1, ver. 29-30).



O rei Gilgamesh, sabendo da existência de Enkidu, incube uma missão a uma das prostitutas sagradas do templo da deusa Ishtar (deusa do amor e da fertilidade): seduzir Enkidu e trazê-lo para dentro das muralhas de Uruk. Enkidu deixou-se seduzir pela rameira e perdeu sua inocência, além de seu poder selvagem, tornando-se conhecedor da malícia do homem. Arrependido, lamenta-se, mas a rameira consola-o enfatizando as vantagens desta nova vida que está por vir:



“Enkidu perdera sua força pois agora tinha o conhecimento dentro de si, e os pensamentos do homem ocupavam seu coração”.(SANDARS, 1992, p. 96).
“Olho para ti e vejo que agora és como um deus. Por que anseias por voltar a correr pelos campos como as feras do mato?” (SANDARS, 1992, p. 99).
“Porque Deus sabe que no dia em que comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.” (GENESIS, cap. 2, ver. 5).



Nesta comparação com a tentação no Éden, não identificamos diretamente os fatos, mas sim, as idéias. A prostituta sagrada, condenada também em outros livros da bíblia, pode ser compilada como o fruto proibido, a serpente e a própria Eva, com o poder de seduzir o homem e tirar sua inocência com falsas promessas.


Representação de Gilgamesh e Enkidu
Enkidu, já na cidade de Uruk, enfrenta o rei Gilgamesh em combate. Vencendo-o, é reconhecido pelo rei como irmão, pois este jamais havia enfrentado alguém com tamanha força. Formando-se então uma grande amizade que protagoniza grandes aventuras e tragédias ao longo da epopéia.

Gilgamesh e Enkidu partiram então para a floresta de cedros (provavelmente, o atual Líbano), onde enfrentaram o monstro Humbaba, a sentinela da floresta.


Este se irrita com Enkidu, por profanar a floresta sagrada dos cedros inferiorizando-o e humilhando-o com palavras semelhantes às palavras de Deus, ao condenar o homem por comer do fruto proibido. Novamente não vemos relação direta entre os fatos, mas uma linha comum de pensamento é verificada entre os textos onde, a profanação e a desobediência são punidas com a servidão:

“… tu, um mercenário, que depende do trabalho para obter teu pão!” (SANDARS, 1992, p. 119).
“… maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias da tua vida”.(GENESIS, cap. 3, ver. 16).
“No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado”.(GENESIS, cap. 3, ver. 19).
Os heróis, com a ajuda de Shamash (deus sol, protetor de Gilgamesh), matam o monstro Humbaba cortando-lhe a cabeça. Fato que irritou o poderoso Enlil (deus da terra, do vento e do ar universal), que exigiu a vida de um dos heróis pelo insulto.
A deusa Ishtar, vendo a força e beleza do herói, apaixona-se por Gilgamesh que a despreza, provocando a cólera da deusa. Então, Ishtar enviou a terra, um monstro com a missão de destruir o herói: o Touro Celeste. Mas a dupla de heróis novamente é vitoriosa. Então, Enkidu zomba da deusa derrotada atirando-lhe pedaços do touro mutilado. Enlil enfurecido com a atitude do mortal decide enfim qual dos dois heróis deverá morrer. Enkidu então adoece e, sucumbindo à doença, impulsiona o rei Gilgamesh a sua missão final: a busca da imortalidade.
A primeira semelhança encontrada pelos tradutores das tábuas em escrita cuneiforme é a mais impressionante. Foi a mola propulsora de toda a discussão sobre a veracidade dos textos bíblicos, pois a descrição do dilúvio não só é a mais bem conservada tábua de toda a epopéia, mas a mais rica em detalhes e semelhanças com a descrição no Gênesis. Além de que, outras narrativas do dilúvio foram encontradas em forma de poemas isolados e com outros personagens, como as tábuas de Atra-Hasis, a Epopéia de Erra, e os textos do rei Ziusudra9.


Na epopéia, Gilgamesh parte em busca da imortalidade, e para isso, precisa obter este segredo dos deuses com o imortal Utnapishtim (Noé do Gênesis). Para encontrar o imortal, Gilgamesh enfrentou uma longa jornada, cheia de perigos e provações. Ao encontrar Utnapishtim, ouve que este não poderá lhe tornar imortal, mas poderá revelar ao herói como se tornara um e conta do dia em que os deuses, desgostosos com a sua criação (a humanidade), resolveram eliminá-la da terra:


“Naqueles dias a terra fervilhava, os homens multiplicavam-se e o mundo bramia como um touro selvagem. Este tumulto despertou o grande deus. Enlil ouviu o alvoroço e disse aos deuses reunidos em conselho: ‘O alvoroço dos humanos é intolerável, e o sono já não é mais possível por causa da balbúrdia.’ Os deuses então concordaram em exterminar a raça humana”.(SANDARS, 1992, p. 149).
“Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração”.(GENESIS, cap. 6, ver. 5).
“A terra estava corrompida à vista de Deus, e cheia de violência”.(GENESIS, cap. 6, ver 11).
“Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis, e as aves do céu; porque me arrependo de os haver feito”.(GENESIS, cap. 6, ver 7).



Ea (deus da água doce e da sabedoria, patrono das artes e protetor da humanidade), avisa Utnapishtim em um sonho das intenções de Enlil e orienta-o de como sobreviver à catástrofe que estaria por vir:


“... põe abaixo tua casa e constrói um barco. Abandona tuas posses e busca tua vida preservar; despreza os bens materiais e busca tua alma salvar. Põe abaixo tua casa, eu te digo, e constrói um barco. Eis as medidas da embarcação que deverás construir: que a boca extrema da nave tenha o mesmo tamanho que seu comprimento, que seu convés seja coberto, tal como a abóbada celeste cobre o abismo; leva então para o barco a semente de todas as criaturas vivas. (...) Eu carreguei o interior da nave com tudo o que eu tinha de ouro e de coisas vivas: minha família, meus parentes, os animais do campo – os domesticados e os selvagens – e todos os artesãos”.(SANDARS, 1992, p. 149-151).
“Faze uma arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos, e a calafetarás com betume por dentro e por fora. Deste modo a farás: de trezentos côvados será o comprimento, de cinqüenta a largura, e a altura de trinta. Farás ao seu redor uma abertura de um côvado de alto; a porta da arca colocarás lateralmente; farás pavimentos na arca: um em baixo, um segundo e um terceiro”. (GENESIS, cap. 6, ver 14-16).
“… entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos. De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca, para os conservares contigo”.(GENESIS, cap. 6, ver. 18).



Enlil então envia uma tempestade de grandiosas proporções, fazendo com que toda a terra desaparecesse sobre as águas:



“Caiu a noite e o cavaleiro da tempestade mandou a chuva.(...) Por seis dias e seis noites os ventos sopraram; enxurradas, inundações e torrentes assolaram o mundo; a tempestade e o dilúvio explodiam em fúria como dois exércitos em guerra.” (SANDARS, 1992, p. 151-153).
“… nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as portas do céu se abriram, e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites”.(GENESIS, cap. 7, ver. 11-12).E toda a humanidade foi exterminada:


“… agora eles (humanos) flutuam no oceano como ovas de peixe”. (SANDARS, 1992, p. 152).
“Assim foram exterminados todos os serem que havia sobre a face da terra …” (GENESIS, cap. 7, ver. 23).



Com o passar dos dias, a tempestade ameniza-se e o dilúvio começa a serenar:


“Na alvorada do sétimo dia o temporal vindo do sul amainou; os mares se acalmaram, o dilúvio serenou”.(SANDARS, 1992, p. 153).
“Deus fez soprar um vento sobre a terra e baixaram as águas. Fecharam-se as fontes do abismo e também as comportas dos céus, e a copiosa chuva do céu se deteve”. (GENESIS, cap. 8, ver. 1-2).



Após a calmaria do grande oceano que se formara, Utnapishtim solta uma pomba para ver se há terra firme para que então possa desembarcar:



“Na alvorada do sétimo dia eu soltei uma pomba e deixei que se fosse. Ela voou para longe; mas, não encontrando lugar para pousar, retornou. Então soltei uma andorinha, que voou para longe; mas, não encontrando lugar para pousar, retornou. Então soltei um corvo. A ave viu que as águas haviam abaixado; ela comeu, voou de uma lado para outro, grasnou e não mais voltou para o barco”.(SANDARS, 1992, p. 153).
“Ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela que fizera na arca, e soltou um corvo, o qual, tendo saído, ia e voltava, até que se secaram as águas sobre a terra. Depois soltou uma pomba para ver se as águas teriam já minguado da superfície da terra; mas a pomba, não achando onde pousar o pé, tornou a ele para a arca; porque as águas cobriam ainda a terra. Noé, estendendo a mão, tomou-a e a recolheu consigo na arca. Esperou ainda outros sete dias, e de novo soltou a pomba for a da arca. A tarde ela voltou a ele; trazia no bico uma folha nova de oliveira; assim entendeu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra. Então esperou ainda mais sete dias, e soltou a pomba; ela, porém, já não tornou a ele”.(GENESIS, cap. 8, ver. 6-12).



Após a bonança, já em terra firme e grato ao deus Ea por ter lhe salvo a vida, Utnapishtim prepara um sacrifício aos deuses:


“Eu então abri todas as portas e janelas, expondo a nave aos quatro ventos. Preparei um sacrifício e derramei vinho sobre o topo da montanha em oferenda aos deuses”.(SANDARS, 1992, p. 153).
“Então Noé removeu a cobertura da arca, e olhou, e eis que o solo estava enxuto”.(GENESIS, cap. 8, ver 13).
“Levantou Noé um altar ao Senhor, e, tomando de animais limpos e de aves limpas, ofereceu holocaustos sobre o altar”.(GENESIS, cap 9, ver 20).



Enlil, furioso com Ea por ter permitido que um humano sobrevivesse e conhecendo o segredo dos deuses, viu-se sem alternativa que não a de transformar Utnapishtim em um imortal, para que sua maldição de que nenhum mortal sobrevivesse se completasse.


Gilgamesh desapontado por não ter tido sucesso em busca da imortalidade, prepara seu retorno para Uruk, mas é abordado pela esposa de Utnapishtim que, compadecida com o fracasso do herói, revela-lhe o segredo da imortalidade em que, nas profundezas do mar, havia uma planta maravilhosa, e quem a comesse, seria eternamente jovem. O herói então mergulha no mar profundo, ferindo-se, mas obtendo a tão desejado segredo.

Tomado de rara compaixão, Gilgamesh decide não comer sozinho o maravilhoso fruto, mas sim dividi-lo com os anciãos da cidade de Uruk. No retorno para casa, Gilgamesh é surpreendido por uma serpente marinha que lhe rouba a flor, perdendo para sempre o segredo da imortalidade:



“Se conseguires pegá-la (a planta sagrada), terás então em teu poder aquilo que restaura ao homem sua juventude perdida. (…) Vem ver esta maravilhosa planta. Suas virtudes podem devolver ao homem toda a sua força perdida. (...) mas nas profundezas do poço havia uma serpente, e a serpente sentiu o doce cheiro que emanava da flor. Ela saiu da água e a arrebatou”.(SANDARS, 1992, p. 160).



Apesar dos fins da ação de comer o fruto sejam diferentes (a morte e a imortalidade), podemos fazer uma analogia da função da serpente em roubar a imortalidade do homem: sendo tirando-lhe a oportunidade da vida eterna pela sua obtenção, como na Epopéia de Gilgamesh; sendo condenando-lhe a morte pela cessão do fruto ao homem, como no livro do Gênesis. Gilgamesh então ficou desolado e abatido, pois além de fracassar em sua missão, perdera para sempre o irmão Enkidu, restando-lhe apenas, melancolicamente esperar o dia de sua morte chegar.
No livro do Gênesis, não encontramos somente semelhanças com a Epopéia de Gilgamesh, mas com outros textos antigos, como o sumeriano Mito de Dilmum onde o deus Enki, o senhor das águas profundas e do abismo que suporta a terra; e Nintu, a virgem pura, deusa que presidia aos partos; habitavam sozinhos num mundo cheio de delícias sem que nada existisse além do par divino, caracterizando uma descrição muito semelhante do que seria e onde seria o jardim Éden:



“E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado. (...) E saía um rio do Éden para regar o jardim, e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços. (...) O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates”. (GENESIS, cap. 2, ver. 8-14).



5. Considerações finais.
É impossível afirmar a influência direta da Epopéia de Gilgamesh sobre a escrita do livro do Gênesis, pois tanto um como o outro poderiam ter sido influenciados por histórias ainda mais antigas e difundidas no Oriente, ao mesmo tempo em que é inegável que o mundo situado entre o Mediterrâneo e os Montes Zargos, onde havia intensa circulação de mercadores de diferentes etnias e religiões variadas, era pequeno demais para descartar qualquer influência cultural entre eles.


Os hebreus, possivelmente muito antes de seus períodos de cativeiro na Babilônia e Assíria, já tiveram contato com as lendas e mitos sumério-acadianos e que por várias razões, os utilizaram na formulação de suas próprias lendas, o que sugere que seu deus, Jeová, toma por empréstimo características de deuses como Anu, Enlil e Ea, seja criando a terra e o homem, seja julgando-os por seus atos, seja compadecendo-se de seu povo e os protegendo.

Acreditamos ser impossível obter conclusões definitivas sobre as influências de um texto sobre o outro, ou principalmente, da formação de um pensamento religioso sem a existência do pensamento antecessor, sem que se faça juízo de valores como é recomendado a um historiador, mas ao se estudar o contexto em que o Gênesis é idealizado e escrito, tomando aqui, palavras de Finkelstein e Silberman, observa-se que "a saga histórica contida na Bíblia (...) não foi uma revelação miraculosa, mas um brilhante produto da imaginação humana”.10
Notas
1SANDARS, N. K. A epopéia de Gilgamesh. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 11-12.


2Os 5 primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
3GRELOT, P. Homem quem és? São Paulo: Edições Paulinas, 1980, p. 14.


4CHARTIER, Roger. Textos, impressão, leituras. In: HUNT, Lynn. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 211-238.


5FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN, Neil Asher. The Bible Unearthed. Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts. New York: The Free Press, 2001, p. 38.


6TIGAY, Jeffrey. On the evolution of the Gilgamesh epic. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1982, p. 11.


7ZILBERMAN, Regina. Nos princípios da epopéia: Gilgamesh. In: BAKOS, Margaret Marchiori; POZZER, Katia Maria Paim. JORNADA DE ESTUDOS DO ORIENTE ANTIGO: LÍNGUAS ESCRITAS E IMAGINÁRIAS, 3., 1997, Porto Alegre. Anais ... trabalho 4. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 58.


8BOUZON, Emanuel. Ensaios babilônicos: sociedade, economia e cultura na Babilônia pré-cristã. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 126.


9CHARPIN, Dominique. El mundo de la biblia: Mesopotamia y la biblia. Valencia: EDICEP, 1984, p. 9.


10FINKELSTEIN; SILBERMAN. The Bible ... 2001. p. 13.
Referências Bibliográficas
BÍBLIA, V. T. Gênesis. Português. A bíblia sagrada. Tradução João Ferreira de Almeida. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969. Cap. 1-9.
BÍBLIA, V. T. Gênesis. Português. A bíblia de Jerusalém. Tradução Theodoro Henrique Maurer Jr.. São Paulo: Edições Paulinas, 1985. Cap. 1-9.
BOUZON, Emanuel. Ensaios babilônicos: sociedade, economia e cultura na Babilônia pré-cristã. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.
CHARPIN, Dominique. El mundo de la biblia: Mesopotamia y la biblia. Valencia: EDICEP, 1984.
CHARTIER, Roger. Textos, impressão, leituras. In: HUNT, Lynn. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN, Neil Asher. The Bible Unearthed. Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts. New York: The Free Press, 2001.
GRELOT, P. Homem quem és? São Paulo: Edições Paulinas, 1980.
SANDARS, N. K. A epopéia de Gilgamesh. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
ZILBERMAN, Regina. Nos princípios da epopéia: Gilgamesh. In: BAKOS, Margaret Marchiori; POZZER, Katia Maria Paim. JORNADA DE ESTUDOS DO ORIENTE ANTIGO: LÍNGUAS ESCRITAS E IMAGINÁRIAS, 3., 1997, Porto Alegre. Anais ... trabalho 4. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.
Referências Eletrônicas
CLOUGH, Brenda W. A short discussion of the influence of the Gilgamesh Epic on the bible. Disponível em http://www.sff.net/people/Brenda/gilgam.htm, 1999. Acesso em: 27 jul. 2003.
CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. Mitos Cosmogônicos: Suméria e Babilônia. Disponível em http://www.galeon.com/projetochronos/chronosantiga/isabelle/Sum_indx.html, 200-. Acesso em: 18 ago. 2003.
LOPES, Fabiano Luis Bueno. Exílio e retorno dos judeus na Babilônia. Disponível em http://www.galeon.com/projetochronos/chronosantiga/fabiano/fab_ind.htm, 200-. Acesso em: 18 ago. 2003.
SUBLETT, Kenneth. Epic of Gilgamesh. Disponível em http://www.piney.com, 2003. Acesso em: 27 jul. 2003.






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